Literatura portuguesa além fronteiras
“O Confessor” lança a dúvida sobre a intervenção da Igreja Católica durante o período do Holocausto
O mais recente livro de Daniel Silva, escritor português radicado nos EUA, confirma a sua tendência natural para temas históricos e pelos “segredos das instituições acima de toda a suspeita”, como o Vaticano. Intriga e mistério, num livro polémico.
A intriga e suspense literários têm mais um seguidor. “O Confessor”, de Daniel Silva, inscreve-se como uma obra repleta de segredos e mistérios, onde todos os acontecimentos se revestem de um carácter enigmático. Daniel Silva, um escritor português de origem açoriana a viver nos EUA, começa por tocar numa das mais importantes instituições religiosas do mundo: a Igreja Católica, sedeada no Vaticano. “O Confessor” questiona a acção da Igreja Católica no horrível e sangrento período do Holocausto, tema apetecível para Silva na medida em que tenta descobrir os segredos desta “instituição que está acima de toda a suspeita”, refere o autor.
Este livro parte de uma “trilogia acidental sobre o tema inesgotável do Holocausto”, encena uma crise na Igreja Católica, questiona a convivência do Vaticano com as atrocidades cometidas pelo regime Nazi, e inicia-nos nos meandros da vida dupla de Gabriel Allon, talentoso restaurador de arte e ex-agente dos Serviços Secretos de Israel. De repente, Benjamin Stern, amigo, antigo companheiro de armas de Allon e professor famoso pelos seus trabalhos sobre o Holocausto, é assassinado em Munique. Após ter pedido o regresso de Allon para investigar o caso, a polícia alemã começa a ter fortes indícios que Stern foi assassinado por extremistas de direita. Allon discorda, sobretudo depois do desaparecimento do material de investigação que Stern tinha preparado para o seu novo livro. Em Roma, o novo Papa, Pio XII, pensa num plano para revolucionar a Igreja Católica, ao mesmo tempo que equaciona abrir alguns arquivos comprometedores do Vaticano.
A partir deste ponto, a obra incide sobre o silêncio do papa Pio XII a propósito do destino dos judeus durante o nazismo. Para o interesse do autor pelo assunto contribuíram a declaração do Vaticano sobre o Holocausto (Nós Lembramo-nos, de 1998) e as mais recentes (e escandalosas) investigações com base nos arquivos secretos do Vaticano. Paira por aqui o fascínio da dimensão secreta da História e a vontade de desvendar os mistérios da alta finança e da baixa política e ainda o de explicar o primeiro acontecimento que acaba por desencadear toda a história, a morte de Benjamin Stern.
Daniel Silva escolheu tratar o Vaticano como uma instituição política e sublinhar a dimensão política das personagens. Para além de todo o material histórico escrito que consultou, entrevistou diplomatas, antigos padres e jornalistas que fizeram reportagens sobre o Vaticano e foram presos. Apesar de estar um pouco envolto em polémica, o que é certo é que “O Confessor” vendeu mais de meio milhão de exemplares nos EUA. Daniel Silva foi aclamado pela crítica e comparado a Graham Greene ou John Le Carré. Ao trocar o jornalismo político pelos romances de espionagem, revelou-se um herdeiro de primeira água dos grandes clássicos da intriga internacional.
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