sábado, novembro 19, 2005

Souad Queimada Viva


Este livro relata-nos a história de Souad, uma rapariga da Cisjordânea com 17 anos que, por amar um homem e engravidar antes do casamento, recebeu como punição a morte, encomendada pelos próprios pais. Foi o próprio cunhado de Souad que, chegando perto dela, grávida de vários meses, a regou com gasolina e lhe ateou fogo.
No entanto, como que por milagre, Souad não morre. No Hospital, onde a põe a um canto para morrer, recusando-se a tratar dela por ter cometido um crime de honra, a própria mãe tenta envenená-la. No meio de um sofrimento atroz, Souad ainda tinha que ouvir os queixumes das enfermeiras relativamente ao cheiro pestilento que a sua carne queimada emanava. Era tratada a ferro frio, sem dó nem piedade, como se de um verme se tratasse.
Salvou-se, graças ao interesse de uma jovem voluntária, de uma organização não governamental chamada SURGIR que, ao deparar-se com a situação de Souad, não desistiu enquanto não conseguiu levá-la consigo para a Suiça, onde permanece ainda hoje, em local incerto, uma vez que o “crime” que cometeu ainda não prescreveu no seu país.
É um relato impressionante, contado na 1ª pessoa, que nos descreve a forma como vivem e são tratadas as mulheres islâmicas, que aos olhos da sociedade valem menos que um animal e, por isso, são tratadas pior que eles. “Um testemunho comovente e aterrador, mas também um apelo contra o silêncio que cobre o sofrimento e a morte de milhares de mulheres.”
Uma obra fascinante, que nos relata o clima de terror em que “sobrevivem” as mulheres islâmicas. Mulheres livres que vivem como escravas nas suas próprias casas, primeiro dos seus pais e depois dos maridos, que as tratam com a mesma crueldade e frieza. Para elas, uma vida de sofrimento constante, é tão certa como a certeza de que o sol vai nascer no dia seguinte. Mulheres que não são livres para amar ou para decidir sobre o seu próprio destino. Um passo em falso e o castigo é a MORTE. É um relato arrepiante, que nos reporta para um mundo em que os “crimes de honra” justificam a perda da vida, de uma forma cruel e desumana. Um mundo em que uma mulher é condenada à morte por cometer o crime de amar um homem. É condenada ao sofrimento pelo único e grande crime da sua vida –TER NASCIDO MULHER.